sexta-feira, 27 de junho de 2008

" RAFAEL/ 15"



"Por mais que procurasse, esta sensação nada tinha de preciso, articulado ou definido em mim. Era muito completa para ser medida, e não era possível medi-la com o pensamento, nem analisá-la pela reflexão. Não era a beleza da criatura sobrenatural que eu adorava, porque a sombra da morte ainda estava concentrada entre essa beleza e os meus olhos; nem o orgulho de ser amado por ela, porque ignorava se para ela era apenas um sonho da manhã em seu espírito; nem a esperança de possuir  os seus encantos, porque o meu respeito era mil vezes superior a  essas vis satisfações dos sentidos para o meu pensamento se baixar até elas; nem a vaidade satisfeita duma conquista  de mulher a ostentar, porque essa vaidade fria jamais penetrara na minha alma, e não havia nesse deserto pessoa alguma perante quem profanasse o meu amor, desvendando-o, para dele me vangloriar; nem a esperança de encadear o seu destino ao meu, porque sabia que ela pertencia a outro; nem a certeza de a ver e a felicidade de seguir-lhe os passos, porque não era mais livre do que ela e em poucos dias o destino ia separar-nos; nem, finalmente, a certeza de ser amado porque ignorava tudo quanto em seu coração se continha, excepto o gesto e as palavras de reconhecimento que ela me dirigira! " ( continua)     

terça-feira, 17 de junho de 2008

RAFAEL/14



"Com as pernas pendentes sobre o abismo e os olhos errantes pela imensidade luminosa das águas, que se confundiam com a imensidade luminosa do céu, sentei-me sobre o muro revestido de hera dum vasto e alto terraço desmantelado, que dominava o lago. Não poderia dizer, de tal modo os dois azuis se misturavam na linha do horizonte, onde começava o céu e onde terminava o lago. Parecia-me estar nadando no puro éter abismar-me no oceano universal. Mas a alegria interna em que mergulhava era mil vezes mais infinita, mais luminosa e incomensurável do que a atmosfera com a qual eu me confundia assim. E essa alegria, ou antes essa serenidade interior, impossível seria defini-la a mim próprio." (continua)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

RAFAEL / 13


"Eu não estava, nesse instante, suficientemente senhor dos meus pensamentos para explicar a mim mesmo essas vagas reflexões. Estava como um homem a quem tiram um peso e respira a largos haustos, distendendo os músculos contraídos e andando de um para outro lado com toda a força, como se quisesse devorar o espaço e recolher nos seus pulmões todo o ar do Céu. O fardo de que acabavam de me aliviar era o meu coração. Dando-o, afigurava-se-me ter conquistado pela primeira vez, a plenitude da vida. O homem é de tal modo criado para o amor, que só se sente homem no dia em que ama verdadeiramente. Até então procura, inquieta-se, agita-se, erra nos seus pensamentos. Desde esse momento, pára, descansa, alcançou a meta do seu destino."( continua)

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