sábado, 27 de dezembro de 2008

Rafael/ 18


" Entretanto, um dia, passando, antes da noite, pela pequena porta do jardim por debaixo das latadas, vi mais de perto a estrangeira, que se aquecia aos frouxos raios de sol, sentada junto a um muro virado ao poente. Não ouvira o ruído da porta, que eu tornara a fechar. Julgava-se completamente só. Contemplei-a durante muito tempo, sem que me visse. Entre mim e ela não existia senão a distância de vinte passos e a cortina de uma latada despida de pâmpanos pelos primeiros frios. Só a sombra das últimas parras lutava com os raios do sol que pareciam flutuar-lhe no rosto. A sua estatura mostrava ser maior do que a ordinária, como a dessas banhistas de mármore, envolvidas em roupagens cuja estatura admiramos sem lhes distinguir bem as formas." Continua. 

sábado, 20 de dezembro de 2008

RAFAEL/17



" Às vezes, á noite. chegando á janela do jardim, avistava outra janela aberta, alumiada por uma luz, a pouca distância da minha, e uma figura de mulher, encostada como eu, que afastava da fronte, com a mão, as longas madeixas de cabelo, para contemplar também o jardim resplandecente de luar, as montanhas e o firmamento. Nesse claro- escuro, eu só distinguia um perfil correcto, pálido, transparente, rodeado de ondas negras dum cabelo liso e unido ás fontes. Essa figura desenhava-se no fundo da janela, iluminada pelo candeeiro do quarto. Também me chegara por vezes o som duma voz feminina proferindo algumas palavras ou dando ordens. A acentuação ligeiramente estrangeirada, ainda que pura, a vibração um tanto febril, lânguida, agradável, mas extraordinariamente sonora dessa voz, que eu ouvira sem perceber as palavras, comovera-me." (continua)   

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