quinta-feira, 3 de julho de 2008

"RAFAEL" / 16



" O que eu adorava, pois, era outra coisa: era esse sentimento desinteressado, puro, sereno, imaterial: o sossego de ter encontrado, finalmente, o objecto procurado sempre e nunca encontrado; essa adoração martirizada á falta de ídolo, esse culto vago e inquieto pela falta de divindade a quem rende-lo, que atormenta a alma pela suprema beleza á qual se tenha prendido como o ferro ao íman, ou nele se haja confundido e aniquilado como o sopro da respiração nas vagas do ar respirável. E, coisa estranha! eu não tinha pressa de a tornar a ver, de ouvir a sua voz, de me aproximar e conversar livremente com ela, que se assenhoreara já do meu pensamento e era toda a minha vida. Vira-a, trazia-a em mim, nada podia arrancar-ma da alma, de perto, de longe, ausente, presente, existia em mim; tudo o mais me era indiferente. O amor completo é paciente porque é absoluto e sente-se eterno. Para me aniquilar seria preciso arrancar-me o coração. Eu sentia em mim essa imagem como a luz nos olhos que a contemplaram, como o ar nos pulmões que o respiraram, como o pensamento na alma que o concebeu." ( continua)  

1 comentário:

João Videira Santos disse...

Gosto do texto e imenso das fotos. Parabéns!

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